quarta-feira, 17 de março de 2010

Ser ou não ser.. e daí..

Roteiro da Terra Brasilis – Um retrato do Brasil através dos tempos e a cidadania

..“Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha.
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha.”


 

Século XIX: ressoavam no ar os primeiros acordes de uma civilização brasileira propriamente dita. Imperavam as idéias nacionalistas, a idealização romântica. Por detrás dos ideais nacionalistas dos nossos escritores, a inegável influência dos românticos estrangeiros, dentre eles Rousseau, com sua filosofia do “bon sauvage”, Henry D. Thoreau, com sua obra Walden, a apregoar que a natureza comunga com o homem em seus sentimentos e que na natureza estão a paz e a felicidade. E nossos autores, vivendo e estudando na Europa, não poderiam furtar-se a essas influências, agravadas pelas saudades da pátria, dado real que vem somar-se aos princípios acadêmicos da Escola Romântica: mostram as belezas de nossa pátria, idealizam o silvícola em particular, como símbolo do nosso país - já que nativo - idealizando, por conseguinte, o povo em geral. Heróis sem defeitos preenchem as páginas de nossas Letras e à medida que avançam os ideais de liberdade, avançam também a formação e a afirmação da Pátria, agora livre dos “grilhões que nos forjavam” A imagem do povo colonizador precisa ser substituída por outra, mais real e permeada de cores locais. É preciso que surja o herói nacional.





Vejamos a extrema semelhança no retrato da natureza traçado por Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu.

Canção do Exílio - Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."




Canção do Exílio - Casimiro de Abreu

Eu nasci além dos mares:
Os meus lares,
Meus amores ficam lá!
- Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Seus suspiros, o sabiá!
Oh! que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas,
Não exalas, meu Brasil!
Oh! que saudades tamanhas
Das montanhas,
Daqueles campos natais!
Daquele céu de safira
Que se mira,
Que se mira nos cristais!
Não amo a terra do exílio,
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras
E as palmeiras tão gentis!
Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo do caçador;
Eu vivo longe do ninho;
Sem carinho,
Sem carinho e sem amor!
Debalde eu olho e procuro...
Tudo escuro Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
Doce e terno,
Doce e terno para mim.
Distante do solo amado
- Desterrado –
A vida não é feliz.


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